Pois então, faz um bom tempo q vinha pedidndo a Anna p/ contar suas histórias de como é trabalhar num hotel de luxo, aqui no blog. Hj vou enfim fazer isso por ela.
A busca do emprego
A historia dela com o hotel PUR (puro em português) começou numa época conturbada de nossa adaptaçao aqui, em junho, justamente quando eu estava na terceira semana lá na metalúrgica, e ela na francisaçao, tb a 3 semanas lá. Naquela época, olhando nossa planilha de custos e as projeçoes de gastos para as semanas seguintes, vimos q o perrengue que estavamos nao sairia dalí por um longo...longo tempo se ela insistisse aprender frances via mesadinha do governo. A ajuda de custo da francisaçao ainda nao havia chegado e demoraria para acontecer, ja q o primeiro cheque demora mais de um mes para chegar. Ela tb nao estava muito satisfeta com o metodo, e tb preferia sair do vermelho logo. Assim, fomos a internet e apos uma rapida busca no emploiquebec.net com as palavras chaves "hotel", ou "preposé au chambre" veio uma lista boa de ofertas. E o melhor, muitas delas nao eram através de agencias de empregos, e sim diretamente com o empregador. Demos preferencia para enviar o curriculum para essas, e obviamente as ofertas de melhores salarios e condiçoes.
Foram algo em torno de 10 emails enviados, acredito q numa terça-feira de noite. Quarta de manhã as ligaçoes começaram. As tres primeiras ligaçoes ofereceram fazer a entrevista no dia seguinte de manha, ja que ela havia ido a francisacao e nao havia como ir naquele momento. No dia seguninte, de manhã lá estava ela, de celular na mao ligando para mim perdida no Vieux Québec, recebendo as coordenadas de como chegar nos endereços das duas entrevistas que haviam sido marcadas p/ aquele período. Ela falava onde estava e eu com o Google Earth aberto no computador tentava identificar onde ela estava e ia dando as coordenadas p/ ela se reencontrar....rs. Me senti numa gincana, foi divertido! Encontrou o primeiro hotel, fez a entrevista e viu q o negocio nao era p/ ela, pois precisavam de uma camareira meio expediente, coisa q nao estava especificado na oferta de trabalho. Ela sentiu q a entrevistadora era um pouco militar e nada educada. Assim, mais alguns pontos negativos p/ lá. Minutos depois ela seguiu p/ a segunda entrevista, enquanto o telefone nao parava de tocar em casa a procura dela para fazerem novas entrevistas de emprego. Mas, sua segunda entrevista foi exatamente no PUR. A entrevistadora muito educada e simpática ja foi explicando a ela como seria seu dia-a-dia, mostrando os quartos, como seria o treinamento...etc. A decisão se ela seria contratada ou nao seria DELA, pois pela entrevistadora ela começaria naquele momento. E o melhor, o salario era o mais alto da lista de ofertas que haviamos obtido.
A Anna voltou para casa sorridente e feliz, pois por aqueles $12,50/h valeria muito a pena sair da francisaçao. Uma semana depois ainda havia hotel ligando p/ casa a procura dela para realizarem entrevistas. Cansei de atender telefone.
Os meses de verão
Ela começou portanto na segunda-feira seguinte, junto com outras 2. Eu larguei a metalurgica p/ fazer um curso de orientacao profissional e os 12,50/h salvaram a lavoura. Era inicio de verão, e o hotel estava trabalhando em plena carga. Muito serviço, muitas pessoas novas trabalhando, muitos estudantes, imigrantes, gente simpática, cheias de enrgia e vontade de ganhar dinheiro. A gerente das camareiras era uma senhora q havia feito a entrevista porém saiu de licença para um operação num dos pés. A gerente substituta era uma jovem terrivelmente simpática e brincalhona. Ela havia encontrado portanto o emprego certo para o primeiro ano na cidade. O fato de dividirem seu final de semana ao meio, deixando o primeiro dia de folga sempre separado do segundo era irrelevante naquele momento. Nao estavamos ali para brincar, e sim para fazer a imigração acontecer, e ela estava tomando um rumo bom e promissor para os meses seguintes.
Tudo ia bem, mesmo que...
... tivesse que limpar banheiros com M*** espalhada pelas paredes do banheiro
... encontrasse quartos cheios de sangue na cama, paredes e tapete apos briga de casal
... houvesse tarado escondido no quarto so esperando ela entrar e dar um susto
... arruaceiro/encrenqueiro/ladrao e caloteiro sendo expulso pela polícia
... houvesse ameaça de bomba no hotel (nao era bomba, e sim uma transacao secreta entre governos mal interpretada por outra camareira...rs)
... encontrasse quartos cheios de bebidas, drogas, calcinhas, absorventes espalhados por todos os lados (fête de Saint-Jean). Pelo menos usaram camisinhasss....rs.
... nao seja raro clientes q nao tomam banho (usam a tecnica da toalhinha... explicarei num proximo post)
O salario compensava tudo, e claro, o q citei acima é uma coletanea de histórias acumuladas em 5 meses de trabalho. A maior parte desse tempo foram tranquilas, com pessoas alegres e clientes simpaticos. Ela até chegou a ganhar hospedagem gratuita na Gaspesie (regiao no extremo leste do Québec, banhada pelo atlantico). Trabalhar em hoteis tb é ampliar seus contatos.
O tempo passou...
Em novembro ela fez 5 meses de hotel, e a Anna alegre com o emprego agora se transformou em uma Anna cansada e desanimada com o trabalho. Mas o q aconteceu p/ isso? Aquela pessoa q chegou ao Quebec com a postura de "encaro qq coisa"? Eu conto.
Trabalhar em "qq coisa"
Quando as pessoas comentam "eu trabalharei com qq coisa" ou "nao importa o q", a princípio podemos levar ao pé da letra o q se fala, mas temos de lembrar quais sao nossos limites, ou descobri-los na ocasiao. Entao qq coisa pode nao dar certo p/ todos. P/ mim, eu poderia dizer assim depois de ter vivido algumas experiencias por aqui: "trabalho com qq coisa... MENOS metalurgia", ou "qq coisa, menos saude e metalurgia" pois nao sirvo para trabalhos desse tipo, ou nao me integro com gente com nivel de escolaridade excessivamente baixo. A Anna nao esta tendo tantos problemas com o esforço fisico, tirando q dorme como um pedra quando chega a folga. O problema sao os finais de semana. Nao ter uma certeza quando serao os finais de semana, ou quase nunca pegarmos um dia para passear pois quando raramente casa um dia de folga dela com os meus finais de semana de 3 DIAS (!!!! :), ou esta chuvendo (GRRRRRRR), ou ela esta tao cansada q nao tem pique p/ passear, fazer algum esporte... etc. O negocio é pega-la no trabalho e nao deixa-la chegar em casa, senao fica dificil ela sair depois.
Trabalhar em qq coisa serve, mas o qq coisa nao pode durar muito. Na semana de orientação profissional q fui no SOIIT, a senhora q estava coordenando o curso contou um caso que tenho certeza q muitos cometerao ainda. Um senhor imigrante que trabalhava com ela, um dia resolveu ceder a tentacao dos ganhos salariais como um caminhoneiro. Alto salario, pouca coisa p/ pensar... era só dirigir e a cada quilometro rodado ele ficaria melhor de vida. Compraria sua casa em segundos, teria dinheiro p/ a familia e viajaria bastante nesse meio tempo. Ops.... ele só esqueceu q viajaria mais q bastante, ele nao pararia em casa! Resultado, começou a ganhar muito, porem ficou mais infeliz pois nao tinha mais a familia por perto. Semanas sem ver sua casa... Eu tb ja pensei em fazer umas loucuras, mas agora nós tb ja aprendemos a ser mais seletivos. Qq coisa nao serve mais.
O Ale BHZ tb trabalhou no Chateau Frontenac, e segundo o q comentou conosco meses atrás quando nos encontramos por acaso num shopping foi q saiu de la pq nao se tem vida. Aquela coisa de "trabalhar p/ viver em vez de viver p/ trabalhar" pode sim existir, mas na é regra.
Inverno-Primavera
A tal senhora simpatica q fez a entrevista e saiu de licença para fazer a operacao, voltou a trabalhar e a coordenar todo o serviço. Segundo falam, ela voltou outra. Ninguem entende o pq, mas.... voltou bem autoritaria. Ela tem pego no pé da Anna e nao larga mais. Essa semana tem colocado gente p/ fazer a vistoria dos quartos q minha camareira preferida tem feito, mesmo ja tendo ganho o premio "vassourinha" do hotel por meses consecutivos(rs...serio!) e tendo sido excluida do "concurso" por fazer "o melhor quarto". A faxina aqui é porca, e como os brasileiros sao mais exigentes a dela sai melhor, porem mais lentamente. Anteontem, ela ficou trabalhando em um andar de outra menina, e dos 12 quartos q ela fez no dia, 6 as privadas estavam com o mofo daqui, um mofo vermelho por falta de escovaçao. Ontem ela conversou com uma das coordenadoras comentando a impressao de persseguiçao q esta tendo. Colocam gente p/ vistoriar o serviço dela q todos elogiam, mas nao veem o serviço porco dos outros. P/ uma privada ficar mofada isso tem de estar acontecendo a dias pelo menos. Os panos de limpeza q esquecem nos quartos ocupados nao tem a mesma importancia de algo q ela esqueça de limpar por excesso de trabalho. Tres semanas consecutivas de finais de semana com os dias de folga separados, e essa semana quando resolveram dar 3 dias de folga (dois dias juntos) ligaram no primeiro dia e falaram p/ ela ir trabalhar. Nao esta dando certo isso. Funcionario infeliz, a qualidade do serviço cai.
Resultado, como ficar feliz num local onde sente-se perseguida, onde nao tem fim de semana e ainda existe o estress do inverno, onde cairá a demanda de serviço e possivelmente muitas ainda irao p/ a rua, viver de "seguro-desemprego" ate serem re-contratadas na primavera. O q? Só na primavera!?!?!? A ultima primavera aqui começou em meados de maio. Haja tempo de mesadinha de governo...
Outra amiga nossa tb esta trabalhando em hotel, como recepcionista do periodo da madrugada. Embora nao tenhamos nos encontrado nesses ultimos 4 meses, trocamos e-mails e ela tb nao tem tido os finais de semana de gente normal, embora sejam regulares e os dias nao sao separados. E outra amiga e agora vizinha, q tb chegou sem frances (porem com espanhol afiado) tb começou a trabalhar como camareira, e ja teve principio de tendinite... Aff... quanta desgraça num post só!...rs Ah...sim ...sim... falando em desgraça, acho q tb nao comentei q a Anna ja ficou 10 dias parados com tendinite nos 2 braços. É.... serviço pesado!
Conclusão
A mensagem que quero passar nesse post confuso, nem tao subjetiva no meio de tantas historias de desgraças é: cuidado com o "trabalho em qq coisa". Pular de emprego em emprego é facil aqui, mas nao é bom p/ estratégia de adaptação alguma. Isso serve, mas vejam bem o tempo q ficarao lá.
7 comentários:
È senhor luiz e dona ANA rsrs
a primeira coisa q falei pra minha esposa é " amor , chegar lah vamos trabalhar com qualquer coisa" rsrsrs
mas pensando bem ...não é msm qualquer coisa rsrsrs Obrigado
e Otimo POst!!
ótimo post, luiz...
gostei mt... sempre pensei em hotel como uma boa opção para o começo.. ainda acho uma boa opção, mesmo depois de ler seu post, mas já penso para um tempo menor...
acho q uns 4 meses.... pra aprender melhor francês, adquirir experiência canadense, ganhar uma grana e au revoir...
eu ja trabalhei nesse esquema nos eua... com "qualquer coisa" e achoq é bem por aí.... uns 4 meses e só... nao consigo mais o q isso em algo q nao to gostando....
grande abraço! fiquei feliz q o blog voltou e logo com 2 posts! uhuuuu
Ola Luis e Anna (vassourinha)...parabens pelo post. Confesso que le atentamente e estou aqui sem saber o que dizer e ao mesmo tempo sabendo. Talvez seja um mix de supresa com realidade. Entendi o post mas a ideia que tinha era de que os valores cuturais ai era o de trabalhar para viver e nao ao contrario. Isso esta me chocando, no sentido de que nao esperava que vcs estivessem nesse ritmo e sim, ganhando melhor e trabalhando menos. Essa era a minha impressão por tudo que já pesquisei sobre emprego ai. Nao tinha atentado para esse lado, o lado do trabalho pesado e da perseguição. E agora o que fazer...trabalhar no mesmo emprego ou procurar outro melhor...pelo menos ai temos essa opção...sei nao estou confuso...Luis parabens pelo post e ana se cuida....trabalhe para viver...abraços Bruno Lucena e Ana Flavia
Nao desanimem nao, olhem para todos os lados, oportunidades existem tem que identificalas
Qualquer coisa trocamos umas ideias, eu so tenho que fazer os meus 11 trabalhos (tres enormes) dai terei algusns dias de ferias ai podemos nos solidarisar nas experiencias.
www.etreaquebec.blogspot.com
É Luiz,a vida não é mole não!! vc está certo em escrever tudo isso aqui,ajudará a muitos e já ajudou a nós que acabamos de ler e de chegar aqui...não dá pra se fazer qq coisa mesmo! a gente pensa que dá,mas a que preço,não é mesmo? Torço para que logo consigam algo menos desgastante para trabalharem,vcs merecem!
Beijinhos nos dois!
Cara! O seu blog é sempre citado nas comu do orkut. Hoje resolvi dar uma passeio por aqui!
EXCELENTE!!!! Ja add em favoritos! Ainda estou beeem no comecinho do meu processo de imigracao (tipo, darei entrada ainda na documentacao), mas informacao nunca é demais!
Abraco
Priscila
Ola amigo.
Acompanho o seu blog há bastante tempo...
Já ouvi sua entrevista na rádio Canada..
Estou aproveitando esse texto para divulgá-lo no Orkut.
Please.. qualquer restrição quanto a isso me escreva
xara@uol.com.br
E não deixe de escrever ..nunca no blog;)
Abraços
Deni
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